Quando uma empresa está com dificuldades é importante colocar em ação um projeto de turnaround para que o negócio volte aos trilhos. Abaixo seguem algumas dicas para que o projeto de turnaround seja bem-sucedido.

Defina onde quer chegar

Não é possível resolver tudo de uma vez, então as prioridades devem ser estabelecidas. Se a solução for aumentar a rentabilidade, não se preocupe com aumento de vendas em um primeiro momento. Se a dificuldade for vendas, não é aconselhável se dedicar ao mesmo tempo a cortes drásticos de custos.

Analise pontos forte e pontos fracos

Nenhum negócio tem só pontos fortes ou só pontos fracos. Por mais difícil que seja a situação, deve haver pontos positivos que podem ser explorados com mais eficiência, e devem existir pontos negativos fáceis de serem corrigidos. Desta análise sairá um plano de ação assertivo.

Existem vários modelos de SWOT que podem ser utilizados, mas recomendo fortemente a visita às operações de campo, para conversar diretamente com aqueles que executam as tarefas, porque eles têm uma visão bem clara dos pontos fortes e fracos que nem sempre os gerentes têm.

Atue rapidamente

É certo que o “momentum” de um programa de turnaround vai se perder com o tempo, então é fundamental que logo nas primeiras semanas alguns resultados positivos apareçam. No começo do projeto defina alguns pontos que irão gerar resultados imediatos, mesmo que não sejam as grandes mudanças que farão a virada. Isso vai manter a equipe motivada e focada.

Em uma das empresas que trabalhei o primeiro ponto que foi abordado em um projeto de turnaround foi a troca do logo centenário e padronização da comunicação visual para todas as afiliadas no mundo. Evidente que trocar o logo não iria trazer a companhia de volta para rentabilidade, mas a comunicação não verbal foi imediatamente entendida por todos os funcionários e a mensagem era “sob nova direção”. A partir daí o foco em rentabilidade e resultados foi entendido por todos.

Defina pontos de quick fix

Coisas simples podem ser feitas em qualquer empresa e às vezes as pessoas envolvidas não conseguem enxergar porque estão muito preocupadas com o problema maior. É possível chegar bem longe corrigindo vários pequenos processos, e os resultados vêm bem rapidamente.

Em um projeto vi grandes mudanças quando recolheram os cartões corporativos dos gerentes, alteraram a política de reembolsos, que era muito tolerante, e suspenderam alguns benefícios acumulados por anos. Apesar da chiadeira e das reclamações iniciais, em pouco tempo a consciência para os custos foi se espalhando na organização e em menos de um ano estava de volta dando resultados positivos.

Elimine posições “good to have”

Normalmente esse é o ponto mais sensível de um projeto de turnaround. Todas as empresas têm posições que são ocupadas por pessoas de altíssimo nível, comprometidas, trabalhadoras, confiáveis, mas que são posições que não geram resultado no curto prazo. Certamente é difícil desligar pessoas boas, mas quando a empresa precisa dar a volta por cima, não existe outra opção.

Planeja a estrutura organizacional que seja mais efetiva

O que realmente faz uma empresa voltar à rentabilidade é uma estrutura organizacional que funcione, que seja a mais adequada ao mercado em que a empresa atua e que responda mais rápido às necessidades dos seus clientes.

Uma boa estrutura organizacional vai gerar resultados por si só, enquanto uma estrutura disfuncional não vai suportar nenhuma estratégia, por mais perfeita que seja.

Determine responsabilidades pelo P&L

Trabalhei em um projeto de turnaround onde ninguém além do gerente geral era responsável pelo P&L, e essa era a principal causa dos resultados negativos. Como vendas não conversava com operações, vários contratos foram fechados a valores abaixo do custo marginal. Da mesma forma, como operações não tinha informações de vendas, baseava seu custo no orçamento, e quando as vendas caíam não havia nenhuma motivação para operações cortarem seus custos.

Para ter resultado, as gerências devem ter responsabilidade de vendas até a última linha do P&L, ou então cada um vai puxar em uma direção, e no final o resultado será péssimo.

Coloque as pessoas certas no lugar certo

As empresas são o reflexo das pessoas que trabalham nelas, isso é inegável. Escolher as melhores pessoas para as posições corretas normalmente é a diferença que faz os resultados aparecerem. Isso não quer dizer escolher as pessoas mais caras, porque muitas vezes existem excelentes profissionais aguardando uma chance de demonstrar sua capacidade, e frequentemente dentro da própria organização.

Eu costumava passar de 20 a 30% do tempo procurando talentos. Entrevistava pelo menos duas pessoas interessantes por semana, independente de ter vaga para elas no momento. Ter contato com pessoas com boas experiências sempre é importante, porque algum dia pode ser necessário para preencher uma posição importante.

Cuide dos processos

Uma vez eu estava com um problema grande porque o RH levava mais de 60 dias para encontrar candidatos para posições simples, porque tinham que procurar vários potenciais postulantes para apresentar ao gerente dono da vaga. A solução rápida foi inverter o processo, e pedi para que o RH apresentasse apenas um candidato, e que se o gerente não escolhesse este, deveria ser específico nas razões da rejeição. Isso encurtou o processo para menos de 15 dias, desafogou o setor de recrutamento e seleção, e permitiu que o RH se concentrasse nas vagas mais estratégicas de coordenação e gerência.

Não se preocupe com as críticas

Elas virão, com certeza. Normalmente virão da própria equipe, porque para mudar os resultados muitas mudanças devem ser feitas, e as pessoas não gostam de mudanças. O foco tem de ser na transformação que a empresa passará, então não se deixe abalar pelas críticas.