Análise das Deficiências em Sistemas de Gestão

Uma das vantagens de trabalhar em uma empresa de certificação de sistemas de gestão por 21 anos é ter uma visão geral da situação do mercado brasileiro, independente do setor ou da área de atuação. Isso é particularmente claro quando vemos os pontos em que as empresas recebem maior número de não conformidades em seus processos e na adequação às normas de qualidade, segurança, meio ambiente, entre outras.

Setores altamente regulados, como alimentos, cosméticos, farmacêuticos, serviços de saúde e serviços financeiros, apresentam muitas não conformidades em aspectos regulatórios, já que devem atender a uma quantidade muito grande de requisitos dos órgãos reguladores, como Inmetro, Anvisa, Mapa, etc…, além do atendimento às regulamentações de todos os órgãos a que as demais empresas estão sujeitas. Particularmente interessante é a dificuldade destes setores de determinarem um processo de acompanhamento das mudanças regulamentares e de avaliar o impacto destas mudanças nos seus procedimentos e fluxos internos. Evidente que se há dificuldade em manter os processos internos adequados às mudanças regulatórias, também há uma dificuldade enorme em manter os profissionais atualizados com relação a estas mudanças de procedimentos. Prato cheio para não conformidades. A recomendação é estabelecer um procedimento simples, mas rígido para captura das informações legais e regulatórias que contenha frequência de consulta destas informações, responsabilidade pela captura, responsabilidade e prazos para análise de impactos e também definições para mudanças de processos.

Não conformidades em setores muito regulados são esperadas, mas mais interessante é observar que todos os setores, sem distinção, apresentam muitas não conformidades quanto aos processos instalados para tratamento destas deficiências. As principais razões são:

  • Tendência de culpar as pessoas e não os processos
  • Existe dificuldade de diferenciar o que é tratar uma não conformidade do que é mitigar um evento pontual
  • As pessoas não conseguem identificar a causa raiz dos problemas
  • É mais fácil dizer que o problema é falta de treinamento do que se perguntar “porque houve falta de treinamento?”

Na minha opinião toda a dificuldade de tratar não conformidades vem da falta de um adequado processo de capacitação dos colaboradores. Os treinamentos disponibilizados pelas áreas de treinamento e desenvolvimento de RH não são baseados em uma trilha de aprendizagem que capacite os colaboradores a entender e internalizar os conceitos mais básicos de gestão além de serem desconectados da realidade do dia a dia das pessoas. Treinamentos específicos de normas de gestão, como ISO 9001, 14001, etc… deveriam ser precedidos de treinamentos que valorizassem os conceitos gerais de gestão, como desenhos de processos, entradas e saídas, key performance indicators, etc…

Além disso, os departamentos de RH investem muito pouco em avaliação da eficácia de treinamentos. Um dos indicadores mais comuns da área de treinamento e desenvolvimento de pessoas é o número de horas de treinamento, mas o que isso vale se os treinados não absorvem o que lhes é ensinado?

O que vale como ensinamento, analisando esta quantidade enorme de casos, é que a área de treinamento corporativo não tem as ferramentas adequadas para a formação dos colaboradores. As áreas de treinamento corporativo podem aprender muito com a expertise do mundo acadêmico, onde a capacitação das pessoas é mais importante que o número de horas de aulas presenciais.

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